Luis Carlos de Menezes é físico e educador da Universidade de São Paulo (USP)
Precisamos nos preparar para essa nova forma de comunicação, que nos liga ao mundo mas nos deixa permanentemente expostos.
Logo depois de saber do impacto do Diário de Classe, da garota de Florianópolis que expôs no Facebook problemas de sua escola, fui atender a um convite para visitar outra unidade da rede pública, essa na periferia de São Paulo. O fato de a leitura da notícia e a visita terem ocorrido na mesma manhã me sensibilizou de forma intensa e contraditória, como relatarei a seguir, reforçando minha percepção de que não é mais possível educar e conduzir escolas sem plena vivência das novas tecnologias de informação e comunicação.
A página de Isadora Faber na rede social - falando da estrutura precária da instituição em que estuda e de um professor - alcançou aprovação imediata de milhares de seguidores e acabou mobilizando as autoridades locais para os problemas que ela apontou. Além de surpreso pela repercussão, fiquei apreensivo por perceber até que ponto as escolas podem ficar expostas, pois uma rede social permite denúncias justas, mas também constrangimentos.
im como me oponho a câmeras de segurança por toda parte, que fazem a escola parecer presídio, gostaria de evitar que ela se tornasse circo ou um Big Brother.
No entanto, durante o dia que passei na escola paulista, minha preocupação foi outra. Depois de me emocionar com um espetáculo de dança, concebido e apresentado pelos alunos, ouvi da nova diretora o relato de uma situação dramática herdada da gestão anterior: lajes despencando, telhados vazando e tomadas expostas, além de um professor que, à sombra de um estatuto equivocado, só vem a cada duas semanas, quando humilha os alunos - como vi em bilhetes em que se queixavam dele. Ao pensar nesse absurdo e em possíveis acidentes no prédio decadente, pensei: "Será preciso que, como em Florianópolis, uma garota de 13 anos ponha a boca no trombone virtual para a rede pública promover a manutenção predial nas escolas e se mobilizar para mudar um estatuto que protege falsos mestres?"
Fonte: http://revistaescola.abril.com.br/